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http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

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EIS AS MONTANHAS QUE OS RATOS VÃO PARINDO

por muito pequenos que pareçam ser... NOTA - ESTE BLOG JAMAIS SERVIRÁ CAFÉS! ACABO DE DESCOBRIR QUE OS DOWNLOADS SE PAGAM CAROS...

APOGEU POÉTICO AVL - Clássico- Décimas

27.05.16 | Maria João Brito de Sousa

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Patrono: Manuel Maria Barbosa du Bocage

Académica: Maria João Brito de Sousa

Cadeira: 06



DESTINO(S)



Destinos pré-fabricados,

indelevelmente escritos,

como se uns fossem proscritos

e, outros, abençoados

pelos arautos alados

de supremos plebiscitos?

Não o creio! São esquisitos

e estão mal fundamentados

os argumentos lançados

pr`a sustentar tais quesitos...



Sei trazermos, à nascença,

genes bem determinantes,

mas nunca serão constantes...

só uns marcarão presença

na selva mais do que imensa

das infindas variantes

que, às vezes, por uns instantes,

se projecta ou se condensa;

morta a razão, brota a crença,

mas não volta ao que era dantes...



Tanto, tanto (des)caminho,

tanto passo `inda por dar,

tanta porta por fechar

- de rompante, ou de mansinho... -,

tanta barca, tanto ninho,

tanta rota por traçar,

tanta luta por lutar,

tão pouco pão, tanto vinho...

Uns, tudo, outros, poucochinho;

Tanto por equilibrar!



E, no meio disto tudo,

num tempo em que as horas passam

como jactos que desfaçam

rastos de análise e estudo,

penso ainda - não me iludo... -

nas frustrações que ameaçam

uns tantos que, mal esvoaçam,

julgam ver, extáctico e mudo,

esse, cujo conteúdo

é mais lábil que os que o traçam...





Maria João Brito de Sousa - 12.05.2016 - 20.51h





 

TRATADO DAS HUMANAS PAIXÕES... E AFLIÇÕES PESSOAIS

19.05.16 | Maria João Brito de Sousa

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Sofri das mesmas paixões

no tempo em que era expectável

e, penso, bem mais saudável

viver tais contradições,

mas, mudando as condições...

mudei-me eu, tornei-me estável

na paixão, essa insondável

nascente de criações

e agora, sem dois tostões,

sou bem menos vulnerável;

Só o Verbo, esse improvável,

me condena às compulsões...

 

Não deixei, porém, de amar!

Creio estar a repetir-me,

mas, agora, sou mais firme,

mais e melhor me sei dar,

tudo faço por explicar

passo a passo, sem medir-me,

e, às vezes, sem permitir-me

falar tão só... por falar,

sem pr`a toda a gente olhar

pr`a melhor me assegurar

de que querem mesmo ouvir-me...

 

Mais um dia se passou

- outro sem nada fazer... -

e eu tentando perceber

porque é que ainda cá estou

e o que é que de mim sobrou

pr`além da velha mulher;

s`inda sei, ou não, escrever,

se restou ou não restou,

daquilo que sei que sou,

força que dê pr`a viver

 

Mantendo esse tal sentido

que dava sentido à vida,

ou se, ao invés, `stou perdida

por poder ter-se esvaído

todo inteiro, o desmedido,

o teimoso, o suicida,

"senso de coluna erguida

e de verso decidido"

que comigo tem vivido

antes de eu me ver vencida

 

Por uma simples bactéria

assassina, oportunista

que até escapou sem ser vista,

mas me deixou na miséria,

c`uma "mazela" tão séria

que inteirinha me "despista"

e que, agora, me contrista

pois, sem voto na matéria,

não escrevo senão "pilhéria"

e temo bem que ela insista,

 

Que a Hashimoto se lhe alie

e que, juntas, dêm conta

de mim, que ando meia tonta,

à espera que o fim se adie...

Embora jamais me fie

na maleita que me afronta,

é melhor ir estando pronta

e, caso a maleita "pie",

peço ao corpo que porfie

em dar-lhe sova de monta!

 

Se dá conta do recado...

isso não posso jurar

porque o mais certo é não dar

e ficar todo "achacado",

febril, fraco, atordoado,

bem capaz de se acabar

antes de tempo, a arquejar

como animal acossado

a quem tivessem negado

o direito a respirar...

 

Maria João Brito de Sousa - 18.05.2016

 

QUATRO DÉCIMAS AO "MEU" TEJO

17.05.16 | Maria João Brito de Sousa

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Não aceito o preconceito,

nem penso que haja, em verdade,

quem exalte a liberdade

pr`a pôr-lhe, depois, defeito,

mas uma outra coisa aceito

e outra, ainda, se me evade

neste limbo entre a saudade

daquilo que sei ter feito

e este jeito tão sem jeito

de usar a realidade;

 

Uma mão tecendo a tela,

outra, prescrutando o fio,

fino, frágil, fugidio,

que não uso como trela

e que não me prende à cela

do passado e do tardio,

pois, correndo como um rio,

me transforma em barco à vela,

em jangada, em barca-bela,

em bote, em escuna, em navio,

 

Quando em mim me centro agora

que a coragem me estremece,

é porque, hoje, me parece

que, assim, mais se me demora

o momento de ir-me embora...

raramente me acontece

fazer, de um poema, a prece

ou a tábua salvadora

de quem é dona e senhora

de mão que, escrevendo, tece,

 

Mas, se humana... que fazer

se, sentindo que fraquejo,

mostro que ainda desejo

por mais uns tempos viver?

Faço tudo o que puder;

prolongo o curso do Tejo,

remo mais um metro, arquejo...

Ah, dê lá por onde der,

não vou deitar a perder,

do meu rio, tão grato beijo!

 

 

Maria João Brito de Sousa - 17.05.2016 - 16.45h

 

 

DÉCIMAS "TERAPÊUTICAS"

10.05.16 | Maria João Brito de Sousa

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Ó bactéria oportunista,

chiba e traidora de classe,

quem dera que me bastasse

este poema, ó fascista,

pr`a domar-te eu, activista

do estro em que me arrolasse,

mas tens-me em tão estranho impasse

que, suponho, mal trespasse

tua couraça elitista

c`o pouco que em mim resista

de um nada que me sobrasse...



Ó desgastante invasora,

pois não vês? Também resisto!

Sou rebelde! Enfim, persisto

em "ser" por dentro... e por fora!

Tu, pequena ditadora,

nem dás conta de que existo;

infectas-me e... lá vai disto!

Mas eu grito; - Vai-te embora,

ó sem-vergonha, ó traidora

da estrofe em que me conquisto!



E, da minha barricada,

ergo a décima em defesa

da vida a que fico presa

por uma coisa de nada...

luto, embora já cansada,

troço até desta tristeza,

sento a Velo* à minha mesa,

torno-me sua aliada

pr`a que a bruta, alienada,

se encha de tanta incerteza

que possa, tão vil burguesa,

ser, no fim, bem derrotada!



Julgas ser tão resistente

que possas tudo vencer?

Pois hei-de fazer-te ver

que há quem, sendo persistente,

consiga fazer-te frente

até, por fim, te abater!

Traiçoeira? Podes ser,

mas vê bem; também sou gente

e não sou nada impotente...

Rosno porque sei morder!





Maria João Brito de Sousa - 10.05.2016 - 13.39h



*Levo - Trata-se da molécula de antibiótico que me foi administrada logo no primeiro dia de internamento, após extraídos os fluídos orgânicos para as culturas bacterianas, a Levofloxacina.