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http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

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EIS AS MONTANHAS QUE OS RATOS VÃO PARINDO

por muito pequenos que pareçam ser... NOTA - ESTE BLOG JAMAIS SERVIRÁ CAFÉS! ACABO DE DESCOBRIR QUE OS DOWNLOADS SE PAGAM CAROS...

CANTE

15.07.15 | Maria João Brito de Sousa

oliveira1.jpg

 

Não tem azeite nem alho

com que prepare uma açorda...

não tem côdea que se morda,

mas não lhe falta trabalho

e quando à noite, ao borralho,

se senta, pensa na corda*

que guarda e que, hoje, recorda,

pensando, “É isto, o que eu valho?

Tal como o Sol, nunca falho

E assim que o galo me acorda



Ponho-me logo de pé,

sacudo a manta da esteira,

acendo a velha lareira

pr`aquecer sonho e café,

ponho a samarra, o boné,

e vou-me fazendo à feira**

pela estrada da canseira

que o dia prometa e dê

a qualquer homem de fé

(que a tenho, à minha maneira...)



Vou roendo a côdea escura

da fatia amanhecida

que sempre que é consumida

me parece ser mais dura

e encho o meu peito à procura

de canção menos dorida,

mas sai-me a voz, não vencida,

no “cante” que em mim perdura...

Não havendo outra fartura,

é del` que encho a própria vida!”



Maria João Brito de Sousa – 14.07.2015





*Corda – alusão, velada, ao pensamento suicida

** Feira – qualquer dia da semana

 

Poema dedicado ao meu avô paterno, por ser poeta, e ao materno, por ser alentejano.

 

A António de Sousa

A Frederico Belo Bazilio