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http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

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EIS AS MONTANHAS QUE OS RATOS VÃO PARINDO

por muito pequenos que pareçam ser... NOTA - ESTE BLOG JAMAIS SERVIRÁ CAFÉS! ACABO DE DESCOBRIR QUE OS DOWNLOADS SE PAGAM CAROS...

MEDOS - Ou factos...

07.06.15 | Maria João Brito de Sousa

Barcopapel.jpg

 

Hoje não posso, não quero,

nem devo, sequer, conter

palavras que, em bom dizer,

são quase de desespero

e, se em palavras me esmero,

nelas me deito a perder

quando, nelas, vos disser

que amordaçada, não espero,

do que produzo, o sincero

vigor de outro amanhecer...



Vencida, não convencida

de jamais poder voltar,

quero, posso e vou gritar

que espero, enquanto houver vida,

ir protelando a partida

até que entendam calar

quanto verso aqui deixar,

mesmo que eu, comprometida,

esteja quase de saída

de onde ainda posso estar;

 

Nas pás deste meu moinho,

nos braços desta nortada

que hoje sopra desvairada

sobre este meu jardinzinho

onde cresce o rosmaninho

num chão que nunca deu nada

mas transgride, à descarada,

regras de um solo maninho

que nunca rouba o vizinho

nem viu sombra de uma enxada...



Hoje, por mais que me doa,

vou dizê-lo enquanto posso;

deste chão não brota almoço!

Brotam só versos à toa

das veias de uma pessoa

que as remete, contra endosso,

para quem, de carne e osso,

saiba que um poema soa

como uma canção que ecoa

nas profundezas de um poço...

 

 

Hoje quero, mas não devo

dizer que a vida me dói

e o silêncio me corrói,

que a praga, onde o verde trevo

florescia em grato enlevo,

toda a colheita destrói,

tudo esmaga, tudo mói,

e que, sempre que me elevo,

me derruba quanto escrevo...

(...e eu nunca quis ser herói...)

 

 

Maria João Brito de Sousa  - 07.06.2015