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http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

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EIS AS MONTANHAS QUE OS RATOS VÃO PARINDO

por muito pequenos que pareçam ser... NOTA - ESTE BLOG JAMAIS SERVIRÁ CAFÉS! ACABO DE DESCOBRIR QUE OS DOWNLOADS SE PAGAM CAROS...

"VINTAGE"

22.05.15 | Maria João Brito de Sousa

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(Décimas)

 

Lanço um manto aveludado

sobre uns ombros que entardecem...

São outras, as mãos que o tecem,

pois foi-me o manto emprestado

já pronto pr`a ser usado

por todos os que envelhecem

mal os anos lhes comecem

a dar um dorso curvado,

mesmo que, ao vê-lo aprumado,

veja, eu, mil que o desconhecem

 

E vai-me a noite tombando

sobre a tarde desta vida

que se erguera amanhecida

do leito em que alguém, sonhando,

me tecera um manto brando

pr`a cobrir-me na partida

da mesma humana corrida

que agora vou relatando

e sei estar-se aproximando

de estar gasta e percorrida...

 

Factos, sim! Não pressupostos,

nem nostalgias banais,

que eu, bem como os meus iguais,

mais do que carpir desgostos

mantenho os olhos bem postos

nos grandes dramas sociais

para além dos pessoais

das rugas dos nossos rostos...

Uvas maduras são mostos

dos néctares que encantam mais!

 

 

Maria João Brito de Sousa – 22.05.2015 -15.09h

 

 

 

BARÓMETRO

16.05.15 | Maria João Brito de Sousa

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Vou na barca alvoroçada

pelas vagas de marés

que inundam qualquer convés

e, não fosse eu experimentada

nesta vida de embarcada,

não fincasse eu, nela, os pés

quando ela, de lés a lés,

é, por ventos, fustigada

com força tal que, assustada,

estremeço mais que uma vez,

 

Talvez nunca mais voltasse

e, escondida no porão,

gritasse, à barca, que não,

que comigo não contasse,

que jamais me questionasse

sobre a minha decisão,

pois nem mesmo a punição

faria com que aceitasse,

ou que, ao menos, ponderasse,

do que eu sinto, a negação...

 

 

Maria João Brito de Sousa – 15.05.2015 – 18.11h

DUAS DÉCIMAS CONTRA O AO90

10.05.15 | Maria João Brito de Sousa

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Confuso, este uso e abuso
de escrever sem dizer nada,
pôs-me, às tantas, nauseada
e é cansada que o recuso...
porém, do gesto confuso
da palavra tresmalhada,
guardo, embora empanturrada
do que mil vezes traduzo
pr`a que não caia em desuso,
sempre a mensagem, gravada;

Sendo a palavra moldada
por quem escreve “em parafuso”,
melhor fora dar-lhe outro uso
porque vê-la torturada,
distorcida, aprisionada
nas algemas de um recluso,
quando, por causa em desuso,
é esculpida “à martelada”,
deixa morta ou estropiada
a leitura, ao leitor luso...

 

 

Maria João Brito de Sousa – 10.05.2015 – 12.39h

 

 

Nota - Muito embora a linguagem coloquial e "ligeira" coloque estas duas décimas na poesia satírica, lembro que é frequente a ironia velada ser utilizada enquanto veículo das maiores verdades...

AI, SE A LUCIDEZ ME FALHA...

04.05.15 | Maria João Brito de Sousa

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“Pobre de mim que sou só,

dentre os mais magra migalha,

se esta lucidez me falha

ao ponto de inspirar dó

quando a rudeza da mó

que espreme, humilha e retalha,

diz, de mim; “peste grisalha...”

e, reduzindo-me a pó

ou chamando-me “totó”,

me aponta e crava a navalha...”

 

Nunca o disse, mas pensei-o!

Mais; senti-o já na pele!

Venha um verso que protele

tão estranho e perverso meio

de mudar bonito em feio

antes que o destino o sele

estando, eu, colada a ele,

mesmo quando, em verso, anseio

tudo quanto não falseio

por mais que, a mim, me atropele...

 

Noite e dia mergulhada

neste mar de mil marés,

resisto em cada convés

de uma barca imaginada

em cujo bojo, selada,

rema a força de quem és

quando em mim, que morro aos pés

do que creio.... e porque nada

pode ter-me ajoelhada

aos presságios de outras fés!

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 04.05.2015 – 15.05h