SEMENTEIRA
Talvez o “não” que não dizes,
talvez a dor que mal sentes
nos membros menos dormentes
de outros tempos, mais felizes...
ou talvez não, que outras crises
mais duras, mais emergentes,
se te impunham, sempre urgentes,
noutros dif`rentes matizes,
e tu, negando as raízes,
foste esquecendo as sementes...
Talvez, talvez... quem garante?
circunstâncias muito adversas
fossem moldando, perversas,
promessas de um sol constante
num mundo muito distante,
num céu qualquer, tão dispersas
que as mais banais das conversas,
imitando voz de amante,
fizessem com que nem Dante
as conotasse diversas...
Talvez tudo o que viveste
durante uma vida inteira
te demarcasse a fronteira
dos passos que nunca deste
e as palavras que disseste,
moldadas desta maneira,
sejam, também, sementeira
dos versos que aqui escreveste:
que de um pão que então comeste
rebente em espiga uma leira!
Maria João Brito de Sousa – 17.03.2015 -18.46h