NATUREZA MORTA
(Décimas em verso eneassilábico)
Ficou preso no vaso bojudo
Do silêncio de uns sonhos quaisquer
E se, às tantas, nem sabe o que quer,
Está sozinho, sem arma, nem escudo,
Porque já se afastou, sobretudo,
Do fascínio de ousar entender
Qu`el´há sempre uma escolha a fazer
E nem sempre há canções de veludo
A brotar das palavras que eu mudo
Ao sabor do que entenda dizer,
Mas aceita! Talvez nunca entenda,
Ou, quiçá, venha a ser vitimado
Pelas chamas de um fogo ateado
Por quem queira acender tal contenda,
Ou quem tente acusar quem defenda
Que um direito se quer conquistado
E bem pouco me importa o cuidado
C`os melindres daquel`que se ofenda
Ou, não qu`rendo assumir, nunca aprenda,
Mas se sinta atingido ou visado!
Sai do vaso doirado, indif`rente!
Vê que a terra se move e, sem ti
Que mal sabes dizer se és daqui,
Tanto mar, tanta voz, tanta gente
Que não cala e que nunca consente,
Verá tudo o que eu digo que vi
Nas palavras que agora escrevi
Desmentindo a postura indigente
Que não é - nem foi nunca! – inocente
Pois confirma o que agora senti!
Maria João Brito de Sousa – 22.05.2014 – 15.20h
NOTA - Este blog tem sido exclusivamente dedicado à poesia em redondilha maior. Abro uma excepção para estas décimas que, em vez da habitual redondilha, me surgiram em verso eneassilábico.