SEIS QUADRAS PARA CANTAR QUATRO QUINTOS DE UMA VIDA
Quem canta um corpo, e não mente,
Se o corpo inteiro lhe dói?
Quem, estando o corpo doente,
Exalta a dor que o destrói?
Eu, se canto, é na lembrança
De um viver menos dorido,
Quando recordo a pujança
De um tempo nunca esquecido
Porque, chorá-lo... não choro!
Trago as lágrimas guardadas
Num limbo onde, hoje, decoro
Ruas, canteiros e estradas
E, nel`, trago um mar imenso
De vagas encapeladas
Onde uso a rima em consenso
Com sensações mal explicadas,
Pois... quem canta, sem mentir,
O que mais lhe vai doendo
Se o silêncio permitir
Que da dor se vá esquecendo?
Porém, do beijo mais tolo
Que dei na boca da vida,
Ficou-me, grato, o consolo
De a ter sentido rendida!
Maria João Brito de Sousa – 08.10.2013 – 17.53h
NOTA DA AUTORA – As primeiras cinco quadras foram encontradas já manuscritas, sem data nem título, numa pequena “acção de limpeza de papéis velhos”. Não faço a menor ideia se já foram ou não publicadas online.
A última nasceu hoje, conforme data e hora transcritas. Foram feitas pequenas reformulações, nas cinco quadras casualmente encontradas.