A UM NÁUFRAGO IN-PERFEITO
Não sei se tarde, se cedo,
Cruzando as rotas do medo
Sem um único arrepio,
De mãos nuas, desarmadas,
Ao som do meu assobio,
Sobre estas pernas cansadas
De infindas milhas galgadas
Por tantos anos a fio,
Estando calor, estando frio
Desbravo as matas cerradas,
Subo montes, galgo estradas,
Perco o Norte ao arvoredo,
Passo por tanto degredo
Que em horas mais desgraçadas,
Se a saudade vem mais cedo
Encher-me do seu vazio,
Guardo bem fundo o segredo
Do que o meu corpo sentiu…
Cruzando as rotas do medo,
Não sei se tarde, se cedo,
Ouvindo o próprio assobio
Dias e noites a fio,
Esteja calor, esteja frio,
Ressoa no arvoredo
Esse indizível segredo
Que a solidão desmentiu…
Se a saudade vem mais cedo
Encher-me do seu vazio,
Esquecido do assobio,
Perdido no arvoredo,
Horas e horas a fio,
Faça calor, faça frio,
Todo silêncios me quedo…
Maria João Brito de Sousa – 07.04.2012 – 22.15h