DA ÁGUA AO FOGO
Se cristalizo
No verde destas plantas orvalhadas,
Já fui um lago de águas prateadas
Em pérolas geladas convertido
Por decisão de imparcial juízo
Sem ter alternativa, nem sentido
Então divago
Na vertigem do cume a que ascendi
Tentando vislumbrar o que não vi
Aquando do percurso horizontal
E tudo o que me resta é quanto trago
Nos cristais da memória mineral
Depois ascendo
E estou por toda a parte e sou enorme,
Nada vive sem mim, sou gás informe,
Ninguém respira sem ter-me aspirado
E já nem sei dizer se o que pretendo
É saber-me, afinal, justificado…
Mas, logo, logo,
Revolvo-me, infernal, em mil fogueiras,
Devoro, sem pudor, casas inteiras
Tentando alimentar a louca chama
Dessa razão de me chamarem Fogo,
Que irrompe, se enfurece e tudo inflama…
Maria João Brito de Sousa – 26.03.2011 – 21.40h