O ABRAÇO DO COMETA II
Olhou-me lá do alto da tristeza
E afastou-se depois, sem se voltar
Até se diluir noutro horizonte…
Só depois disso eu vi que estava presa,
Só depois disso eu me tentei soltar
E só depois bebi daquela fonte…
Há quantos, quantos anos eu julgava
Estar livre e ser senhora dos meus dias,
Das horas de ninguém que vão passando
E, tanto quanto lembro, imaginava
Poder-me rir das vãs filosofias
Dos muitos que por cá as vão deixando…
Então chegou o tempo, o dia, a hora
De mudar o meu rumo e de escolher
Entre a sobreviver e ser poeta.
Escolhi a Poesia e vim-me embora!
Agora sei que existe outro viver
Depois de cada abraço de cometa…
NOTA - Este poema, em sextilhas, mantém o decassílabo heróico do soneto clássico. É a minha primeira experiência nesta forma de estruturar um poema que eu penso não ter sido muito utilizada.