Ela não sabia
Nem viria a saber
Por que razão o acaso de viver
Parecia pedir-lhe, a cada segundo,
Que tomasse para si
As culpas este mundo
E o esquecimento
De outra razão de ser.
Ela não perdia.
Aceitava e fazia
Tudo o que este mundo lhe dizia
E, mesmo sabendo, não pedia
O que os outros pediam sem saber.
Ela não cantava.
Apenas ouvia
E transformava a dor de cada dia
No tal pão que haveria de comer.
Se, ao menos,
Um Poeta-Encantado
Pudesse tocá-la,
Talvez a morte não viesse buscá-la
Tanto tempo antes do tempo
De morrer...
O casulo que tecera à sua volta
Era tecido da mesma revolta
Que sempre a impedira de viver...
Dentro do casulo,
Pensando ser ela,
Era apenas a porta ou a janela
Aberta à dor de quem visse sofrer...
Foi nessa condição
Que a Morte a encontrou
No mesmo dia em que ela procurou
Abrir janelas, portas ou saídas
Que lhe pudessem mostrar essa vida
Que havia em si e sempre se negou...
1994
Imagem retirada da internet