A ÚLTIMA ESTRELA
Um anjo, de negro,
Recolhia do céu
As últimas estrelas da noite
Para que o sol
Nascesse quente e glorioso.
Uma mulher, de branco,
Recolhia, de uma qualquer janela,
O direito de fazer permanecer a noite.
O Anjo olhou a Mulher
[pequena estrela baça
teimando em ser estrela
para além da noite]
E, se os anjos são anjos,
São homens com asas
E sofrem das mesmas contradições...
O homem com asas
Não fez por maldade...
Fez por tradição,
Não se rouba ao sol
A glória do brilho!
Não se guarda a noite
Por trás da janela!
[e até ente os anjos
impera o conceito
de preconceito...]
Tocou-lhe, ao de leve,
Tão de levezinho
Que mal lhe tocou
E a mulher caiu...
Caiu, mas subiu
No segundo exacto,
No momento certo
De alcançar no alto
A Última Estrela...
1994 - In Memoriam