Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

EIS AS MONTANHAS QUE OS RATOS VÃO PARINDO

por muito pequenos que pareçam ser... NOTA - ESTE BLOG JAMAIS SERVIRÁ CAFÉS! ACABO DE DESCOBRIR QUE OS DOWNLOADS SE PAGAM CAROS...

A ÚLTIMA ESTRELA

31.03.09 | Maria João Brito de Sousa

Um anjo, de negro,

Recolhia do céu

As últimas estrelas da noite

Para que o sol

Nascesse quente e glorioso.

 

Uma mulher, de branco,

Recolhia, de uma qualquer janela,

O direito de fazer permanecer a noite.

 

O Anjo olhou a Mulher

[pequena estrela baça

teimando em ser estrela

para além da noite]

E, se os anjos são anjos,

São homens com asas

E sofrem das mesmas contradições...

 

O homem com asas

Não fez por maldade...

Fez por tradição,

Não se rouba ao sol

A glória do brilho!

Não se guarda a noite

Por trás da janela!

[e até ente os anjos

impera o conceito

de preconceito...]

 

Tocou-lhe, ao de leve,

Tão de levezinho

Que mal lhe tocou

E a mulher caiu...

                            Caiu, mas subiu

No segundo exacto,

                             No momento certo

De alcançar no alto

                              A Última Estrela...

 

 

 

1994 - In Memoriam

SER

30.03.09 | Maria João Brito de Sousa

14143817_ESzUu.jpeg

 

 

Este meu procurar

Muito além do real,

Esta ascese lunar,

Esta busca imparável,

Este sacrificar

Do que for vulnerável,

Este ser, este estar,

Mesmo estando tão mal

Este querer, este dar

Em partilha total

Que se acende num mar

Transcendente e palpável…

Esta coisa de amar,

Este viver instável

De correr, caminhar,

Numa estrada ideal

Este medo sem medos

Este mal, este bem,

De viver sem segredos...

 

Este não ser ninguém!

 

Maria João Brito de Sousa - 30.03.2009 - 12.33h

 

DESTA ÁGUA NÃO MAIS BEBEREI

28.03.09 | Maria João Brito de Sousa

 

 

Rasgam-se montanhas.

Fundem-se correntes.

Gritam, metálicos gritos,

Engrenagens de um tempo

Que alguém transformou

Em rodas dentadas

E os meus braços, estendidos como limos,

Impotentes, cansados,

Pedem utopias

E alcançam memórias

De crianças que me amaram

Mal as pus no mundo.

 

Mãozinhas que me arranhavam a cara,

Pezitos minúsculos que eu beijava

Como se fossem a única coisa

Que merecesse a doçura do beijo.

Vozitas agudas que me chamavam Mãe...

 

Farrapos de memórias,

Fragmentos de um amor que não voltará,

As meninas que sobreviveram

Às crianças que foram,

Não sabem nem sonham

O quanto as amei...

 

As belas asas que lhes teci,

Dia após dia,

Arrancou-lhas o mundo lá de fora

Pena a pena

E eu choro por elas

E pela menina em mim

Que hoje não consigo ressuscitar...

 

 

1994

 

COISAS ANTIGAS - Memórias de Feiticeira

27.03.09 | Maria João Brito de Sousa

me da-da.jpg

 

MEMÓRIAS DE FEITICEIRA

*

Não haverá deus ou homem

Seja poeta ou guerreiro,

Que me prenda a uma estrada

Ou me acenda uma fogueira,

Que eu fiz o voto-votado

De nunca ser cativada

Nem comprada por dinheiro.

*

Fiz o voto de ser eu;

Sem assumir cores alheias,

Prometi a Prometeu

Nunca adorar outro deus,

Nem meter-me em espopeias.

*

Fiz o voto-votadinho

De me viver por inteiro

Muito longe do meu ninho,

Muito lonnge do canteiro,

Nunca mais corpo-de-pão,

Nunca mais sangue-de-vinho...

*

Ficou-me um vago cheirinho

De mel e de rosmaninho;

Memórias de feiticeira

Com fama, sem ter proveito,

De chama em seara-alheia.

 

*

Maria João Brito de Sousa

1994

QUERO PODER QUERER

26.03.09 | Maria João Brito de Sousa

Quero poder ser eu!

Esquecer-me de ti,

Do mundo inteiro,

Matar antigos traumas no cinzeiro

E reviver o sonho que vivi.

 

Quer ser árvore, água, melodia,

Cristalizar um momento de alegria,

Ficar a olhar os passos lentos do rebanho.

 

Quero rodar no sentido oposto

Aos ponteiros do tempo aprisionado,

Abraçar as crianças dos meus tempos de menina,

Abrir as portas ao meu anjo da guarda,

Adormecer numa ilusão aquático, uterina...

 

Nunca quis nada...

Agora quer tudo!

Que o meu uivo de lamento

 Nunca seja mudo!

 

Quero ser ouvida,

Morar nos braços do vento,

Agradecer ao sol cada segundo de vida!

 

Quero a amizade da lua, das estrelas,

Dos rios e dos pardais

[de corpos... só astrais!]

E incendiar a dor em chamas belas...

 

 

1993

 

 

PROFECIA

25.03.09 | Maria João Brito de Sousa

20150625115015_00002.jpg

 

 

Desse saber que dizem

Vir do ar

Nos nasce a poesia

Mais perfeita

Que humano algum jamais pôde

Alcançar…

 

E vem difusa, etérea,

Mas segura,

Qual semente de ideia a ser

Cumprida…

 

 

Assim se estreiam vestes do futuro

No passado/presente de uma vida

E nas tais coisas que esse instinto sente,

Mas que a razão, depois, nos quer negar

Cala-nos fundo a condição lunar

Que há-de (e)levar a Deus a nossa mente...

 

 

Maria João Brito de Sousa - 25.03.2009

 

RIMAS MUITO SOLTAS II

23.03.09 | Maria João Brito de Sousa

Tenho telhados de vidro

Que ninguém pode quebrar...

Quando, à noite, fecho os olhos,

Vejo estrelas a brilhar.

Se não consigo dormir,

Os telhados vão-se embora,

Fico presa numa cela

E a alma sempre lá fora...

 

La´fora, junto do céu

Que só eu sei alcançar...

Sempre que as grades me prendem,

Fujo para além do ar...

 

Não aceito, nem consinto,

Que me prendam a rotinas!

Se alguém me vier espreitar

Eu corro logo as cortinas

E deito a alma a voar

Para dentro desse céu

Que criei e que é só meu...

 

Só ensinei o caminho

A quem disse que me amou,

Mas ninguém, nunca, encontrou

O meu refúgio secreto

E eu choro, muito em segredo,

Pois sei que ninguém gostou

A ponto de conhecer-me

E ninguém, jamais, voou

Pr`ó espaço onde eu sei voar,

Muito, muito além do ar...

 

Mas, se alguém me acompanhou,

Teve medo e foi-se embora,

Por isso choro a saudade

Da rapidez dessa hora...

 

1993

 

RIMAS MUITO SOLTAS

21.03.09 | Maria João Brito de Sousa

Deito contas à corrente

Das rimas que tenho escritas

E, se as tenho por benditas,

Tenho-as por mal arrumadas...

 

Nas refregas e canseiras

A que a vida me condena

Só sei recorrer à pena

Nas horas mais derradeiras

 

E, se o Relógio-de-Sol

Que me guia, Norte-Sul,

Um dia desatinar...

 

Não hei-de pôr-me a chorar!

Antes pinto o céu de azul

E deito a alma a voar!

 

 

ANAMNESE

19.03.09 | Maria João Brito de Sousa

 

 Por aqui passo tão leve,

Num passo largo e tão breve,

Que ninguém me vê passar...

 

Passo sem deixar pegada

Na terra ou na erva mansa,

Deixo aqui uma palavra,

Deixo ali uma ternura

Nos braços de uma criança...

 

E passo tão de repente,

Tão brevezinha e sumida,

Que, mesmo sem estar escondida,

Não passo por entre a gente...

 

Passo tão leve que o céu

Não está mais perto que eu

Das aves e das estrelas

E, de tão leve passar,

Eu já não sou eu... sou elas.

 

Poderia ser fantasma,

Erva do prado, criança,

Brisa que sopra no Verão

Ou leve sopro de esp`rança...

 

Um dia, quando chegar

A hora de não voltar

A passar, nem levemente,

Mesmo assim há-de ficar

Um pouco de mim a amar

Dentro de cada semente

 

E um pouco de mim no vento,

Quando sopra de mansinho

E um pouco de mim, sonhando,

No oco de cada ninho...

 

Hei-de ficar tão de leve

Quanto passei pela vida

E ninguém me encontrará

Mesmo sem eu estar escondida...

 

Que eu não quero ser ninguém

Pois ninguém me conheceu.

[por isso nunca fui Eu]

 

Se ninguém me conheceu,

Como posso ser esquecida?

 

 

Nota - Poema não datado, escrito aos meus vinte e poucos anos, se bem me lembro...

RIMAS SOLTAS

14.03.09 | Maria João Brito de Sousa

Trinta dias me fugiram

Palavras que não escrevi.

Trinta dias me roubaram

À vid,a que já vivi...

 

Não peço muito ao caminho

Que percorro sem querer

Mas as asas que nasceram

Cresceram sem eu saber

E se as não deito a voar

Passo o tyempo a divagar

E perco o rumo ao dever...

 

Que escrever é um dever

Tão imperioso e urgente

Quanto a sede da semente

Acabada de nascer...

 

Alguém me ditou  fado

De nunca ter felicidade

Se negasse a liberdade

De quem me deu o legado

De um Barco-meio-Acabado

E de um Mar-de-Tempestade...

 

Trinta dias me neguei,

Trinta dias castigada,

Lanço as velas da caneta,

Mergulho no mar que herdei

E escrevo... mesmo amarrada!

 

 

 

 

 

Imagem retirada da internet

Pág. 1/2