SE VÊS, REPARA!
Repara, amigo, repara
Como os tempos vão mudando,
Como a voz me não sai clara,
Como os anos vão passando…
Repara nestes cabelos
Que se tingiram de branco,
Não mais os negros novelos
Dos tempos do riso franco…
Vê que as rugas já despontam
Nesta face e, demarcadas,
Quais leitos de rios, te apontam
Pr`a estrelas quase apagadas…
Portanto, amigo, repara
Que os anos foram passando…
Se a voz, a ti, te sai clara,
A minha vai rouquejando…
Repara nas minhas mãos,
Agora menos seguras…
Tempos houve em que a paixão
As tornou bem menos puras
E, se em verdade trabalham
Sem descansar um segundo
Por vezes, cansadas, falham
Nas exigências do mundo…
Eu, de cansada daquilo
Que a ti te pode interessar,
Escrevo poemas “ao quilo”
E só a eles me sei dar
Por isso, se vês, entende
Que me seria impossível
Aceitar, de quem mo estende,
Um amor tão perecível…
Maria João Brito de Sousa